Depoimento do Fábio, sobre família e adoção

"Sou o filho mais velho e tenho um irmão mais novo. Fui uma criança muito protegida pela mãe... não tive a companhia de meu pai. Eu gostava mais, sem dúvida, da minha mãe. Fui criado com muito cuidado (excessivo). Pra se ter uma ideia, minha mãe me dava banho com água mineral! Eu já era uma criança introspectiva e gorda... Hoje sou um adulto gordo... O que causa, nessa época da infância, uma separação natural, porque gordo já é recriminado... Minha adolescência foi muito sofrida. Marcou muito. É uma fase que, infelizmente, não poso ter de volta e sinto ter perdido. Passei muito tempo dela pensando. Os meus impulsos sexuais foram tardios em relação a maior parte dos meus amiguinhos.. Mas com 10, 11 anos, eu já tinha consciência da minha homossexualidade. Eu queria brincar de boneca, queria pentear bonecas. Eu queria ser uma menina. E em casa, eu não podia ser eu mesmo. Tinha medo de rejeição, de deixar de ser amado, de ser anormal, de ser transviado. Achava que poderia ser uma fase que poderia passar. Tive muita dificuldade em me aceitar como homossexual e ainda tenho. Pensei muitas vezes em me matar, mas nunca tentei...

 

Quando me apaixonei, decidi contar aos meus pais. Minha mãe não teve uma reação boa. Ela ficou profundamente triste, mas acho que deveria ter escondido a tristeza. Deveria ter se interado do que é o homossexualismo. Quem conhece não pode ter uma reação dessas, nem mesmo uma mãe pode ter. Essa atitude é em forma de preconceito. Hoje, só me sinto discriminado pela minha família, desde que a minha vida emocional, sexual, etc. é omitida, quer dizer, não se toca no assunto, ninguém quer saber pra não se machucar... Isso machuca muito mais. Quer dizer, será que a minha mãe não imagina que o fato de eu estar sozinho me faz sofrer? Acho a velhice perigosa para o gay... porque gay não constitui família. O homossexual tende a ficar só. Mas se ele estiver bem com ele mesmo... Para o gay ter família, ele tem de adotar alguém. Eu adotaria uma criança pra fazê-la uma pessoa melhor, para ajudá-la. Pode ser filosófico, mas eu quero ajudar. Agora, ter filhos naturais, casar com mulher, ter filhos, netos... Não há o que fazer. Já pensei tanto nisso..."